L: Anna me disse que seu namorado escreveu um livro. É bom?
A: É claro!
L: É sobre você, não é?
A: Algumas coisas.
L: O que ele omitiu?
A: A verdade.
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Larry (Clive Owen)
Alice (Natalie Portman)
D: Por que não mentiu pra mim?
A: Porque combinamos de sempre dizer a verdade.
D: Qual vantagem há nisso? Minta pra variar. É o costume por aí.
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Dann (Jude Law)
Anna (Julia Roberts)
D: Você entendeu mal, eu não queria…
A: Sim, você queria!
D: Fiz porque te amo!
A: Onde? Me mostra! Cadê esse amor? Eu não o vejo. Não posso tocar nele. Eu não sinto. Eu te ouço, escuto umas palavras mas não posso fazer nada com suas palavras vazias.
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Dann (Jude Law)
Alice (Natalie Portman)
Closer – Perto demais
(Closer – 2004)
Aquele que exige a verdade, ignora o fundamental: a verdade é variável.
É o que faz Lacan forjar o neologismo ‘varidade’.
Se a verdade está longe de viver de fatos objetivos, a verdade do amor então… nem se fala!
Só se enxerga por ilusão.
Só se toca por esbarrão.
Só se sente por uma certeza duvidosa ou por uma dúvida certeira.
Acontece através do outro mas não na sua apreensão.
A verdade do amor só pode ser alcançada por sua ficção, jamais pela ‘fixão’.
Aquele que exige a verdade que ainda não se aproximou, deixa de viver a verdade do instante do encontro que ele mesmo ajuda a compor… e ignora.
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Se há uma coisa que aprendemos em um trabalho de análise é que a verdade surge nos tropeços, nas falhas, na ambiguidade e na equivocação. As manifestações do inconsciente, privilegiadamente consideradas pela experiência de análise não nos deixa mentir.
Tentar apreender o inapreensível da verdade é se afundar na empreitada do impossível. Tal como segurar água com as mãos. Ela escapa.
O ‘eu também’ em resposta ao ‘eu te amo’ já se configura em – no máximo – uma ambiguidade. É uma mentira que um ame com o mesmo amor que o outro, e pode ser verdade que haja um amor (outro) endereçado ao um (também).
A obsessão pela verdade já coloca o obcecado em uma posição de ignorância e só faz sustenta-lo neste lugar.
O ‘eu te amo’ pode ser a verdade de hoje e a mentira de amanhã. E vice-versa.
O que a verdade de uma palavra te diz?
A palavra comporta sempre a mentira, o equívoco e a ambiguidade, posto que nenhuma palavra encerra o que se pretende dizer. Nenhuma é suficiente para capturar a coisa.
O que a verdade de um fato atesta?
O fato, tendo acontecido, está imediatamente submetido à sua interpretação.
O que é a verdade?
A verdade não tem dono.
Cada um tem a sua.
Quem ousará dizer que o amor que você sente, construído a partir e através da sua fantasia, não é verdade?
*
A Histérica mete os pés pelas mãos, se antecipa.
Mais, ainda: se precipita.
Está sempre lá na frente, em um suposto futuro.
Quem quiser que a acompanhe de maneira sôfrega, tentando alcança-la onde ela não mais estará.
Mas, variavelmente, deixa estragos.
O Obsessivo adia o quanto pode entrar em cena.
Duvida em demasia.
Finca os pés no passado enquanto a vida avança.
Nunca chegou a hora.
Nunca é propício o suficiente.
Quem se ocupa do presente?
O amor ocorre de maneira não regular.
Um dia um está mais apaixonado, outro dia o outro está mais encantado.
Certa vez os dois estão ocupados demais para poder se ocupar um do outro.
Em outro momento ainda, tem um preso em uma tal história já terminada enquanto o outro está providenciando o que nem foi anunciado.
Cada momento a dois tem algo de incapturável. Mas também tem uma brecha de olhar para o outro com curiosidade – distinto de um olhar investigativo e inquisidor – para aprender o novo que a outra vida apresenta.
Mesmo que seja mais do mesmo.
Há sempre algo de novo naquilo que se repete.
Nada mais equivocado do que alguém se queixando que sua relação caiu na rotina, na monotonia.
Essa postura já denuncia que a espera está instalada.
Espera que o outro faça;
Que o outro invente;
Que o outro se transforme.
O que você faz do seu encontro amoroso enquanto espera o presente passar?
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Flávia Albuquerque